Se você não se cuidar, a
tacocracia vai te pegar!
Os antigos gregos, avós da
cultura ocidental, quando usavam o termo tákhos (rápido) para
expressar uma característica ou a qualidade específica de algo, não poderiam
imaginar que um dia seus herdeiros fôssemos capazes de escolher a velocidade
como o principal critério de qualidade para as coisas em geral.
Estamos próximos, muito
próximos, de uma tacocracia, na qual a rapidez em todas as áreas aparece como
um poder quase despótico e como exclusivo parâmetro para aferir se alguma
situação, procedimento ou relação serve ou não serve, é boa ou não.
A pressa não é mais inimiga da
perfeição?
Devagar não se vai mais ao longe?
Há, ainda, algum valor que possa
ser atribuído a algo que demora um pouco mais para ser feito, fruído ou
conquistado?
Não; não temos mais tempo!
Cada dia levantamos mais cedo e vamos dormir mais tarde,
sempre com a sensação
de que o dia deveria ser mais extenso ou não soubemos nos organizar direito.
Nem o relógio olhamos mais para ver que horas são,
mas, isso sim, para
verificar “quanto falta”.
É essa urgência de visualizar o intervalo espacial
entre os ponteiros que fez, por exemplo, com que os relógios de pulso digitais
não obtivessem sucesso duradouro, pois precisam ser lidos, em vez de apenas
percebidos de relance;
hoje, só os usam os que têm algum tempo sobrante para
fazer cálculos.
Vai demorar para ficar pronto?
Vou demorar para aprender isso?
A conexão é demorada?
A leitura desse livro é
demorada?
A visita ao museu é demorada?
O culto é demorado?
Aprender a tocar
este instrumento é demorado?
Cuidar mais do corpo é demorado?
Demora para fazer
esta comida?
Então, não posso querer.
Será um exagero pensar que
estamos sendo invadidos pela tacocracia?
Bem, lembremos somente uma situação
modelar: a alimentação.
Embora esta seja uma das
maiores fontes de prazer e convivência para a nossa espécie, querem que eu, o
tempo todo (em vez de ser opção eventual), procure um tipo de comida em função
da qual não precise pensar muito para selecionar - posso numerá-la, no lugar de
nomeá-la - e, claro, não espere além de um minuto para recebê-la.
Ademais, essa comida deve ter
uma consistência que me permita dispensar o trabalho de mastigar muito, podendo
comê-la com as mãos, após ser tirada do interior de um saco de papel.
O melhor
de tudo é que eu consiga fazer isso sentado em fixos banquinhos desconfortáveis
(diante de incômodas mesas) ou, como ápice civilizatório, dentro do carro,
enquanto dirijo.
É prático, sem dúvida.
Mas, é
bom?
Possibilita que eu ganhe tempo,
mas, o que faço com o tempo que ganho?
Vou
desfrutar mais lentamente outras coisas ou continuo correndo?
Tem alguma coisa errada nessa
turbinação toda.
Afinal, para além dos gregos
que traímos, vamos pelo menos respeitar os latinos, para os quais curriculum
vitae significava o percurso da vida, e não a vida em correria...
..............Mario Cortella
Esse agito todo é fruto da era digital. Estamos sempre na vanguarda. Queremos o novo, o não inventado ainda e estamos em busca de algo para nos preencher sempre. E estamos nos perdendo nessa busca desenfreada. Isso impera o individualismo, a solidão, o egocentrismo... Sejamos mais humanos, sem pressa alguma... Bjs. Lu
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